quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Meus Dedinhos

Naquela noite, não quis ir dormir. Não era a primeira. Não era surpresa. Ainda restavam dois cigarros e ela, aquela que era cor de mesma coisa, porra e sono, estava deitada na cama de solteiro com um lençol que deixava descoberto o melhor lado da sua bunda. Apenas dois cigarros. Ele tenta lembrar se não esqueceu algum no bolso da calça, mas não consegue. Ele pensa em sair, não há cigarros (foda comum = porta à dentro = porta a fora = repeat). Ele acende o penúltimo e nele o último. Enquanto descola alguns pêlos da mão, achatados por uma mancha esbranquiçada, se dele ou dela tanto faz, ele olha pro beco de madrugada tudo fechado, tarde demais de novo. Puta vida pau no cu essa, por que ele não podia ter tirado a merda da mão do melhor lado da bunda dela pra enfiar no bolso e comprar um maço. O melhor lado da bunda dela exposto, devia tirar uma foto, emoldurar, tatuar salva-vidas, fazer moldes de pirulitos e mantê-los na boca o resto da vida. Ele lambe um dos dedos e devagar o coloca entre o melhor lado e o outro que não é tudo isso, e vai afundando devagar. Ela respira e vira de bruços. Eles chamam de contagem progressiva. Agora vai o segundo dedo. Quando ela vira o maço achatado debaixo dela aparece nos lençóis. O terceiro dedo avança. Ele cata o maço e segura o riso. O quarto dedo força. Ela sempre goza no tempo de um cigarro, é um dom, talvez passar tanto tempo aqui tenha feito isso a ela, uma espécie de instinto, ele acha engraçado ela estar deitada num maço. Quase cheio. Quase um sinal. O quinto desaparece. A mancha esbranquiçada faz sentido.

3 comentários:

meL disse...

Foda.
Em qualquer sentido da palavra.

Silvio disse...

eita, eita ... acho que já tinha lido isso em algum lugar ...

Lázaro Barbosa disse...

Os dedinhos, os dedinhos... Onde estão?

Saudações verdes

Lázaro