Secar o cigarro
Com o isqueiro aceso
E sentir o cheiro enjoado
Da água esquentando
Levando alguma coisa do fumo
Nessas horas
Com bem pouco na cabeça
Acendo o cigarro
Tem uma mancha de batom
No filtro,
Alguém apagou quando o ônibus
Chegou
Bem perto
Dessa vez
Até que babo o filtro
E agora sim
Esse é o cigarro mais fodido do...
Que eu
Podia dizer
Um pouco sempre sobra
Estou sentado de frente pra ela,
Quando ela nota o que meus olhos são
Ela cruza as pernas
Já é tarde
Eu já vi
Eu tô esperando amanhecer pra voltar pra casa
Até que ela pede um cigarro
Ofereço aquela merda que tô fumando, o único que tenho,
Ela dá alguns tragos e me devolve
O batom dela é da mesma cor
Finjo que sempre foi o dela
E trago o que sobrou
Do cigarro,
Do batom na boca dela.
Minha boca é uma
Mistura de cerveja, whisky e outras bocas
A dela é só a mais próxima
De um vestido rápido
De abrir
E abrir
A boca cansa
A minha
Mão vai conduzindo a cabeça dela
Depois minha mão já nem precisa,
Ela reboca minha calça
Até os pés
E me paga um boquete fodidamente perfeito
Na parada de ônibus,
Na madrugada
Não é só o que resta
Que acaba sendo tragado.
Ela se aproxima e enquanto engole minha boca
Começa a falar sobre alguma coisa
No passado
Que ela viu um menino afogado
Que encontraram na praia, quando ela também era só uma menina
Quando ela corria pra entrar no mar
Deu de cara com ele
No meio de tudo isso
Escancaro as pernas dela
Por um segundo ela geme
Enfio a mão no vestido dela
Ela continua falando sobre o menino afogado
Uma vez, numa madrugada, me lembrei desse menino afogado lá pela segunda garrafa de vodca. A essas horas ela é outra pessoa com algo melhor, mas eu não consigo tirar da minha cabeça o menino afogado.
2 comentários:
Afogando pra acordar...
do mal.
Um de cada vez.
Todas as vezes.
Ao mesmo tempo.
Será que alguma vez é do mesmo jeito?
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