Ela ia mordendo a maçã
Devagar
Chupando os pingos
Sem conseguir evitá-los
E com os dentes
Ia dando o contorno
Que queria
Fazia a cabeça
Os braços desiguais
As pernas tortas
Tudo com
Seus dentes
As marcas de seus dentes
Enquanto fazia os braços
A cabeça começava a mudar
De cor
Quando chegava as pernas
Os braços mudavam
De cor
E ela voltava sua boca
De novo para a cabeça
Diminuindo
Os braços
Também
E as pernas
Depois
Aos poucos o boneco ia sumindo
Dentro dela
Aos poucos ela o descobria de novo
E ele exposto
Amadurecia e apodrecia
Rápido demais
Na pele
Ela ia cravando seus dentes
Até que ele simplesmente sumiu
Não havia nada dentro dele
Tudo estava
Dentro
Dela
Cada vez mais
Ele
Some.
(Poema 70; in Tudo Isso Que Eu Não Consigo Dizer Embalado Pra Viagem)
Um comentário:
Dentro dela.
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