quinta-feira, 25 de junho de 2009

AMOR

O que fazer com os animais
depois que eles morrem?
O que fazer com os animais
depois que eles morrem?O que fazer com os animais
depois que eles morrem?
É maçante reler, não apanhe outros na rua,
Por favor.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Me siga

As calçadas sufocadas
pelas sacolas de supermercado
e latas de cerveja
de volta a vida
a voz anônima
nos formulários de consulta
nas filas para o silêncio e
para o amor,
morto nas imensas unhas
morto no refluxo
de um veneno que se digere
não se remove, hoje
promessas risíveis
e pernas abertas
são o único propósito
do meu abandono.

Caixa de Anotações

Há dias
em que você
pode ultrapassar
a fumaça do
cigarro
que acabou
de soltar

Dias em que
as cervejas
sabem as semelhanças
no terror de
qualquer solidão

Dias em que
a memória e
O sexo se
aprofundam
e falham e não se
distinguem

Dias em que
você mistura a
cinza do cigarro
ao café e vira
de uma vez
na boca,
mas as palavras
continuam não sendo capazes.

Em que metadona
é o vício e heroína
é a cura

Em que poemas são
como putas, dão as caras na
madrugada e
cobram seu preço

Em que frases como
- Não! Essa não é a sua veia.
- Seu fígado aparenta uma melhora razoável
- Meu bem esquece o que o seu pulmão pode ou não pode fazer
são o amor mais gratuito
por perto.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Blue

E você me doía no peito
como um tablete efervecendo
num copo de requeijão
cheio de água
como uma ressaca vira-lata
você vem furando com seus dentes
os restos no meio da rua
vazando o real
acabando de cantarolar a música
com o cubo de gelo na boca
com o copo na mão
arranhando o sol que entra pela porta
com essas pernas
e me olha tão sozinha
como coisa nenhuma que se pode dizer agora
e sempre um sexo melhor que um sentido
e uma noite só a mesma que a outra
festejando com as feridas quando você
parece só um entulho de uma ausência
que está sempre desviando os olhos
para dentro pronta para enfiar as mãos na solidão
e me dar os restos na boca, com anestésicos, whisky,
e mais âncoras das quais só sabemos tomar todo cuidado
tão vago estar tão bêbado pensando que estou emigrando
de um desperdício controlado pra uma grande coisa nenhuma
que é fatal sentir uma hora ou outra pensando em tocar suas coxas
e eu acabarei chorando tanto que em todas as direções será para fora
e o quanto puder para longe, sem fim, sem as palavras formando
seu corredor polonês nas minhas entranhas, sacudindo a mesma
falta de tudo que não está comigo, uma lista inesgotável amputando
de mim alguma coisa que eu fosse quando não havia nada em troca
de você montada em mim me espremendo o fôlego e olhando
direto nos meus olhos, sacudindo meu rosto, levando o meu primeiro olhar do dia,
se misturando como algo que não enfraquece dentro da minha garganta
em silêncio como uma estória limpa, sem rasuras, se afastando devagarinho
a cada manhã, cantando cada vez mais baixinho, até que a dor disfarçasse
o que é necessário para que você permaneça inalterável e faminta,
separada de mim pelo ar puro do que já havia visto antes.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Junkie sem gelo

As pessoas
As manchas
As noites
As sarjetas
Não seriam tão
Miseráveis no meio
Da solidão
Se aprendessem a
Ser mais imbecis
Com a paciência
Cruzando de uma vez
Esse sinal amarelo
Nas tripas, nos coices,
Nas saídas de emergência planejadas.

Silêncio outra vez

Se eu der a mão
Pra você eu consigo
Pular, já disse
Que esse não sou eu,
Quando você me
Abraça eu sinto
Seu coração batendo,
Já disse que esse
Não sou eu,
Obrigado por ter
Ficado aqui por essa noite,
Já disse que esse não
Sou eu,
Diz que me ama,
Já disse.

Segure o fósforo até a chama apagar

Órgãos explosivos
Cobertos de napalm
E um perdedor invisível
Procurando o interruptor
Com uma velas nas mãos,
Eu deveria parar de pensar em mim,
Uma faísca e de repente
O fogo se espalha
O coração incendiado
Um centro de crianças mudas
em chamas e seus pequenos corpos
sem som vazando pelas janelas,
Pela garganta, correndo para longe
Do mesmo ponto,
Tentando socorrê-las os
Nervos em pânico pisam
Seus corpos carbonizados para conter o fogo
Esmagando-as, revelando o monte de esterco
E a brincadeira de mal-gosto entre o amor e os segredos
Crianças escondidas gritando enquanto os fantoches
São pisoteados.